Pesquisa mostra que 76% dependerão da previdência social para sobreviver
Estudo da Ipsos Public Affairs e Fenaprevi, com 1,2 mil entrevistados em 72 municípios em todas as regiões do País, revela que maior parte da população desconhece falta de receitas do INSS
Três a cada quatro brasileiros (ou 76% da população) admitem que dependerão principalmente ou totalmente da aposentadoria pública do INSS para sobreviver.
É o que revela a pesquisa Fenaprevi-Ipsos divulgada ontem, cujo levantamento alcançou 1,2 mil consultados em 72 municípios espalhados em todas as regiões do País. Segundo os dados, 48% responderam que se o dia da aposentadoria fosse hoje, dependeriam totalmente da aposentadoria pública para se sustentar; e 28% disseram que dependeriam muito.
Em menor escala, 18% responderam que dependeriam pouco; 3% que não dependeriam em nada do INSS, e 3% não souberam responder.
“O levantamento mostrou que mesmo com intenso debate sobre o tema da reforma da previdência nos últimos dois anos, nós – como sociedade – falhamos em passar a mensagem adequada para a população”, afirmou o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), Edson Franco.
O executivo lembrou projeções já divulgadas pelo governo, que sem a aprovação de uma reforma da previdência social, em menos de 10 anos, 60% dos recursos do orçamento serão consumidos no pagamento de aposentadorias e pensões. Atualmente, esse percentual está em torno de 45%.
“O envelhecimento da população é uma questão demográfica. Sem a reforma, o déficit do INSS vai crescer de forma exponencial nos próximos anos”, avisou Franco. Ele contextualizou que, no ano passado, o déficit do INSS atingiu R$ 180 bilhões e atendeu 27 milhões de pessoas; e que o déficit das aposentadorias e pensões dos servidores públicos foi equivalente para atender 3 milhões de pessoas.
“Isso é justo? Não. Nós da Fenaprevi defendemos um sistema de igualdade, que não haja privilégios e seja igual para todos, sem concentração de renda. A somatória dos dois déficits anuais é o grande problema das próximas décadas”, alerta o presidente. A expectativa é de um déficit no INSS de R$ 200 bilhões neste ano.
Mesmo com números tão ruins, a pesquisa, detalhada ontem, mostrou uma realidade de desinformação e de distorção na percepção da população. Pelos dados, 51% dos entrevistados consideram que o modelo da previdência social é sustentável, ou seja, que pode continuar assim, e 53% afirmam que o INSS deve se manter com o montante arrecado para previdência. “O déficit existe e aumenta ano a ano”, ressalta o presidente.
Outra incoerência apontada nas respostas, é que outros 31% dizem que o INSS deve se manter com o montante reservado e também com recursos de outras áreas do governo. “É tirar dinheiro da saúde e da educação para pagar aposentadorias e pensões”, diz.
Para 75% dos consultados, o principal problema da falta de recursos para previdência social é a corrupção, e apenas 15% dos respondentes atribuem ao modelo vigente e ao envelhecimento da população, e 10% não souberam responder essa questão. “A corrupção é um problema, sim. Mas não é a causa do déficit”, disse.
Franco contou ainda que a medida que aumenta a escolaridade dos entrevistados, cresce a resistência ao tema da reforma da previdência. Entre os que possuem nível superior, 40% dizem que a reforma não é necessária, ao passo, que entre em não tem instrução, apenas 25% são contra.
Entre os que tem ensino superior, 25% querem se aposentar antes dos 60 anos; 32% aos 60 anos; e 3% querem se aposentar entre 61 e 64 anos. Ou seja, 60% das pessoas com ensino superior pretendem se aposentar antes dos 65 anos, a idade recomendada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o grupo dos países considerados desenvolvidos.
Já no grupo de entrevistados com o ensino fundamental I, apenas 44% buscam se aposentar antes dos 65 anos. Isso se explica porque nesse grupo, a maior parte das aposentadorias já é por idade, e não por tempo de contribuição.
Entre as preocupações do futuro, 32% estão apreensivos com os gastos com remédios; 28% com plano de saúde; 15% com segurança; 12% com a educação dos filhos e 11% com a moradia e o aluguel.
Plano privadoDiante da realidade dos números, Edson Franco lembrou que a previdência complementar (privada e aberta) só alcança 6,5% da população brasileira. “Temos um potencial enorme de crescimento”, destacou. A pesquisa mostrou que 60% dos entrevistados acham necessário ter um plano complementar de previdência, e 20% estariam dispostos a poupar até 10% do seu salário para a fase de aposentadoria, e 11% estariam dispostos a poupar entre 11% a 20% do salário mensal. Entre as maneiras que pretendem garantir o sustento na aposentadoria, 43% admitem que vão continuar trabalhando.
Fonte: DCI